Os nossos olhos não nos permitem olhar para nós próprios. Precisamos de espelhos que nos reflictam: é ao olhar o outro que conseguimos ir ganhando consciência de nós próprios. Através da observação dos outros é que aprendemos e podemos analisar-nos em comparação. Além disso a cópia é dos exercícios de aprendizagem mais eficientes, e todos nós somos produtos da socialização com o nosso meio, onde somos todos, de alguma forma, formados pela fôrma social com que nos relacionamos (e formamos).
Se é olhando o outro e compreendendo-o que vamos ganhando consciência de nós próprios, não exclui que seja também, em simultâneo, a olhar para dentro de nós próprios que nos compreendamos (a nós e aos outros). O mundo é dialéctico, sabendo isso não nos surpreende que o nosso "Eu" e os "Outros" se correlacionem e se complementem.
Por esta interdependência entre o desenvolvimento do indivíduo com os outros, não deve pertencer ao acaso a curiosidade das crianças perante o outro, seja um adulto ou não, copiando e interrogando sobre o que vêem, nem deve pertencer ao acaso a coscuvilhice do meu vizinho. O animal em causa parece ter a curiosidade como uma característica inata, e, talvez, não sei, todos os outros mamíferos também.
Se é olhando o outro e compreendendo-o que vamos ganhando consciência de nós próprios, não exclui que seja também, em simultâneo, a olhar para dentro de nós próprios que nos compreendamos (a nós e aos outros). O mundo é dialéctico, sabendo isso não nos surpreende que o nosso "Eu" e os "Outros" se correlacionem e se complementem.
Por esta interdependência entre o desenvolvimento do indivíduo com os outros, não deve pertencer ao acaso a curiosidade das crianças perante o outro, seja um adulto ou não, copiando e interrogando sobre o que vêem, nem deve pertencer ao acaso a coscuvilhice do meu vizinho. O animal em causa parece ter a curiosidade como uma característica inata, e, talvez, não sei, todos os outros mamíferos também.
O que quero agora aqui evidenciar é que este reflexo entre uma coisa e outra está sempre presente e em tudo, inclusivamente, é sempre preciso uma referência para o próprio objecto se poder definir. Ao evidenciá-lo, espero não vir a corromper as ideias de Marx relativas à mercadoria nas minhas próximas linhas.
Ler O Capital é como assistir a uma dança entre o que é e o que parece ser, entre um conceito e o seu par oposto numa relação de amor e ódio, inclusão e exclusão, em que um só existe em complemento com o outro. O Capital não sendo um livro de Filosofia, é um livro com filosofia (tal como A Peste de Camus). Exemplo duma dessas danças é a análise do Valor através de um par de mercadoria. Marx explica como a mercadoria A (tecido de linho, no seu exemplo) tem o seu valor expresso somente contra uma outra mercadoria B (no caso, um casaco). É por estas mercadorias se poderem trocar imediatamente, uma contra a outra, que a primeira toma a forma-valor da segunda, e, por exemplo, 20 metros de tecido de linho equivale a 1 casaco. O fenómeno ocorre também no sentido inverso.
E Marx ao explicar isto em O Capital deixa a seguinte nota:
Ler O Capital é como assistir a uma dança entre o que é e o que parece ser, entre um conceito e o seu par oposto numa relação de amor e ódio, inclusão e exclusão, em que um só existe em complemento com o outro. O Capital não sendo um livro de Filosofia, é um livro com filosofia (tal como A Peste de Camus). Exemplo duma dessas danças é a análise do Valor através de um par de mercadoria. Marx explica como a mercadoria A (tecido de linho, no seu exemplo) tem o seu valor expresso somente contra uma outra mercadoria B (no caso, um casaco). É por estas mercadorias se poderem trocar imediatamente, uma contra a outra, que a primeira toma a forma-valor da segunda, e, por exemplo, 20 metros de tecido de linho equivale a 1 casaco. O fenómeno ocorre também no sentido inverso.
E Marx ao explicar isto em O Capital deixa a seguinte nota:
"Só através da relação com o homem Paulo como seu igual é que o homem Pedro se relaciona consigo próprio como homem. Mas, assim, dos pés à cabeça, na sua corporalidade pauliana, também vale para ele como forma fenoménica do Genus Homem."
Acontece que estas relações reflexivas e de cópia trazem também consigo os significados e os sentidos que absorvemos culturalmente através dos nossos antepassados, inclusivamente os engodos que a aparência nos prega. No caso do valor de uma mercadoria o que está na sua raiz é a quantidade de trabalho humano (objectivado nela), e não, como é costume pensar-se, o dinheiro e o preço.
"Com estas determinações de reflexão, em geral, passa-se uma coisa curiosa. Um homem, por exemplo, só é rei porque outros homens se comportam em relação a ele como súbditos. Inversamente, eles crêem ser súbditos por ele ser rei." - Karl Marx (in O Capital)
Está visto que não é fácil nos libertarmos de um legado de preconceitos e outros enganos. Pergunto-me o que para além do conformismo mais haverá num indivíduo, isto é, em todos nós, que nos leva a evitar uma mudança de pensamento? Há tempos escrevi culpando a Má-Fé, mas outras mais razões podem estar por detrás dessa resistência intelectual à mudança, por exemplo, a relação entre formações de significado, sentido e identidade.
O passado pesa!
O passado pesa!
"Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam directamente, legadas e transmitidas pelo passado." - Karl Marx (Dezoito Brumário)
2 comentários:
Ainda um dia seremos como os macacos... então teremos a ocasião de humanizar as circunstâncias e não apenas que elas determinem o nosso querer!
A filosofia é um bom começo de ano... Boa!
Há muitos que têm dificuldades em compreender esse "humanizar as circunstâncias". Se calhar, teremos antes que "chimpanzar" as circunstâncias. Antes uma das vias, que nenhuma. :-D
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