quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Stand By Me


"Let's just say that I stole the milk money, but old Lady Simons stole it back from me. Just suppose that I told this story. Me, Chris Chambers, kid brother to Eyeball Chambers. Do you think anyone would have believed it? (...) You think that bitch would have tried that if it had been one of those douche bags... from The View, if they had taken the money?"
É sempre um tremendo prazer rever este filme, que tanto marcou a minha adolescência. Esta cena, em particular, levou-me, ainda miúdo, a desenhar um paralelismo com a realidade que eu observava diariamente. Revoltava-me, constantemente, esta ideia que um determinado indivíduo fica irremediavelmente preso a uma determinada imagem, que na maioria das vezes não corresponde à realidade. Anos mais tarde, aprendi, e apreendi, que esse preconceito ultrapassa o indivíduo para se fixar nas colectividades que germinam da luta de classes. Aos doze ou treze anos de idade andava angustiado e nauseado com a dimensão violenta do preconceito, não por ter sido vítima dela, mas porque convivia diariamente com quem o era. 
Infelizmente, e porque um filme é um filme, a realidade é uma coisa muito diferente, e muito mais complexa. Estes miúdos, que vivem dentro de contextos muito pouco favoráveis, raramente conseguem expressar um desabafo, muito menos chorar de frustração no ombro de um amigo. E estes miúdos, que lutam diariamente com o mundo que lhes cerra os dentes e os punhos, não conseguem, normalmente, contrariar o futuro que lhes espera.
Quando afirmo que gosto de rever este filme, é porque este filme regurgita da memória a lembrança dos miúdos com quem convivi, e traz-me a recordação de uma maioria que não teve direito de crescer como conjunto de indivíduos completos, não só porque os pais foram incapazes, mas sobretudo porque as escolas não quiseram saber, atirando-os para um lamaçal de preconceitos e marginalização.

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