Marguerite Duras |
Outra impressão que me surgiu na mente: o livro é uma brutalidade. É uma autobiografia, mas envolta numa áurea tão seca, tão desprovida de acessórios, tão directa e honesta, que deixou de ser um relato de memórias para se transformar numa reflexão introspectiva sobre este sótão que guardamos na cabeça, e que apelidamos de memória.
Uma pequena reflexão: qualquer um escreve autobiografias. Mas este livro não foi escrito por qualquer um. Marguerite Duras. A escritora rabisca e o leitor consome, e as imagens transcendem-se e materializam-se num invisível celofone. Estamos abandonados, mas libertos, e experimentamos aquela honestidade que é intensa. Só nos resta observar. Não há nada a retirar.
Conclusão: reconheço uma ideia que surgiu no livro. O amor é violento. É violentamente prazeroso e violentamente triste. Acho que não é descabido afirmar que no amor há uma parte de nós que é violada. E no mundo como o de hoje, e que amanhã será cada vez mais, dar aquele amor genuíno, tão desligado das condições de retrospectividade, é sujeitarmo-nos à violação.
Imagem retirada daqui
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2 comentários:
Não tendo lido o livro julgo estar prejudicado qualquer comentário. Seria abusivo comentar um livro sem o ter lido. Mas à conclusão posso deixar um comentário, pois apenas incide na ideia que teve: amar é sujeitarmo-nos à violação. Concordo: quem ama é viola_do. E nem queira saber o prazer que dão tais acordes...
:))
Não li retrospectividade mas reciprocidade. No comentário acima, não li acordes, mas açoites. Vou pôr os óculos.
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