quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Por que se caminha?


Porque tento escrever algo se não preciso e nem sei se tenho algo para dizer? No entanto, cá estou, escrevendo. Não me interessa somente um motivo, um foco ou algo que importe e valha a pena passar a palavras. Interessa-me, sim, o motivo, o foco, aquilo que mais importa. Há quem diga que escrever ajuda a compreender e que o acto obriga a estruturar as ideias. Confesso: escrevo como exercício de busca. Escrever ajuda-me a compreender o que busco.

Mas se tenho disponibilidade porque não escrevo mais? Se calhar não busco compreender coisa alguma, caso contrário, com tanta disponibilidade, teria a tese escrita em vários tomos. Mas se não escrevo como exercício de uma busca, então porque o faço quando o faço? E concluo que escrevo quando não tenho disponibilidade para o fazer!

Talvez esteja aqui o foco, aquilo que importa passar a palavras.

(escrevo muitas vezes como um solista de Jazz improvisando sem qualquer destino e sem adivinhar se surge tensão ou resolução)


Percebi!
É uma fuga. A escrita surge como fuga. Um fazer isto invés daquilo. Não é uma procura, uma busca, e isso muda muita coisa. O foco. A posição do foco: ele passa a estar atrás e não à frente. Buscamos o que está adiante. Fugimos do que está atrás. O motivo? Medo. A busca é curiosidade. A fuga é medo.

Preciso de recapitular.
A busca era uma ilusão e não um impulso da curiosidade. Fujo para perceber? Estranho! Sempre se estranha a novidade. Mas faz sentido. E não faz.

(na música as resoluções surgem normalmente como respostas mas nesta jam não)

Segundo Galeano a Utopia é como o horizonte e nos serve para caminhar. Damos dez passos em frente, e o horizonte dez passos se distancia. A caminhada prosseguiria eternamente. Ele ou eu, um de nós está errado. O que nos faz caminhar é o medo e não a utopia. Caminhamos dez passos em frente e logo atrás o medo com dez passos nos persegue.

Andamos a medo. É a nossa maior força motriz. O caminho faz-se fugindo. A curiosidade e a utopia são um álibi da fuga.

Escrito isto, compreendi que escrevo enquanto fujo. Compreendi mesmo?

(sem rumo delineado as notas que foram tocadas dão mote às que virão)


Perdi-me! Se soubesse porque escrevo talvez não tivesse escrito isto. Talvez não escrevesse de todo.

Pensei em parar e deixar-me apanhar. Mas o pior medo é aquele que desconhecemos ter medo. E com este texto dei outros dez passos em frente. Outros dez passos ouço atrás! 

Galeano ou eu, um de nós está errado e ambos estamos certos. Está aí o foco!

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