O empreendedorismo não é uma moda, é uma filosofia. Empreendedorismo não se limita às antigas definições. Faz parte da mutação económico-social vigente. Não é por acaso que empreendedorismo é matéria explorada por cursos e cadeiras ligadas à gestão empresarial e à economia.
É importante perceber que há uma inevitabilidade: todos os sistemas mudam. Estão em perpétua mudança, e não há forma de travar a mutabilidade.
Longe vão os tempos em que a economia focava-se na produção. A economia de hoje foca-se no lucro. O lucro faz-se de duas formas: exploração de mão-de-obra e especulação. Muito ruído se faz para fugir às evidências. É preciso repetir vezes sem conta. O lucro faz-se pela exploração de mão-de-obra e pela especulação. O lucro faz-se pela exploração de mão-de-obra e pela especulação.
Contudo, esta filosofia económica tem falhas que consequentemente levam a crises económicas, ou crises financeiras ou crises imperialistas. Ora faz-se uma crise de sobre-produção ora faz-se uma crise de especulação financeira.
Como se disse, todos os sistemas mudam. Tenta-se corrigir as sucessivas falhas. A última resposta do sistema actual é o empreendedorismo. O antigo consumidor passa a ser consumidor-produtor-consumidor. Todo o individuo passa a produzir e a consumir no binómio que se mistura e que se confunde. Produção e consumo fundem-se numa nova forma de ser. Produção e consumo passam a ser um único acto. Isto não seria mau se, primeiramente, a produção fosse orientada e organizada socialmente, e não por impulso individual; e se esta relação produção-consumo libertasse o homem como ser que usufrui a vida e as suas respectivas experiências humanas. O empreendedorismo levará o homem a extinguir-se em relações de mercantilismo. As relações autênticas não cabem nesta nova filosofia. Tudo será mercantilizado e objectificado. No passado mais recente até aos dias de hoje constatamos o óbvio: o empreendedorismo tem levado milhares de indivíduos a produzir inutilidades originais. O mercado está saturado de produtos e serviços. Aos novos empreendedores, para que sobrevivem num mercado cada vez mais desregulado, altamente competitivo, à mercê de tubarões monopolistas, é necessário e obrigatório que apresentem um novo e singular produto. Tem de ser socialmente necessário? Não. Tem de ser original e apelativo e tem de fazer lucro. Milhares de empreendedores vestem gravata e fato-macaco. São patrões e empregados. Laboram sem horários fixos. Não recebem ordenados fixos. Todo o lucro é revertido como capital de investimento. Se não o fizerem, se preguiçarem naquilo que definiram como período de descanso, estarão condenados a perecerem nos escombros do mercado livre. Todo o tempo é dinheiro e é uma corrida pela sobrevivência. Só se produzirá lixo e gerações futuras em desespero. Aqui está o novo mito de Sísifo. O Mito do Empreendedorismo.
Para concluir. Muito se tem falado sobre empreendedorismo. Ainda hoje passou na televisão um anúncio que dizia algo como:
«os portugueses são aventureiros e empreendedores»
Os telejornais guardam para o fim crónicas sobre empreendedores de sucesso.
Mais uma vez: muito se tem falado sobre empreendedorismo. Como fórmula mágica para sair do desemprego. Como solução para quem quer sair do emprego que o torna miserável. Contudo, há pormaiores que são omissos. A esmagadora maioria dos indivíduos que opta por se tornar empreendedor precisa de um empréstimo bancário para capitalizar o projecto. Estatisticamente, a esmagadora maioria dos empreendimentos falha no primeiro ano de existência. Isto resulta em dezenas, centenas, milhares de indivíduos que contraíram um empréstimo bancário que os irá sufocar para o resto da vida. Nada disto se tem falado. Outra questão pertinente prende-se no interesse da banca privada. A banca privada vive da especulação, e o produto que se especula é a dívida. Com a crise imobiliário recente, o ganha-pão da banca privada esfumou-se. Esta nova filosofia que se tem espalhado como infecção é exactamente aquilo que a banca privada precisava. Novos empréstimos bancários que criarão novas bolsas de dívidas, e que resultarão, novamente, em especulação. Quantos mais se aventurarem pelo empreendedorismo, mais a banca privada agradece. E acreditamos, sem sombras de dúvidas, que nada disto é por acaso.
É necessário e urgente compreender que esta nova filosofia é uma mutação dos sistemas regentes. Contudo, e por muita operação de cosmética que desenvolvam, as principais contradições estão lá todas. Para terminar, um facto histórico: esta filosofia só acelerará o suicídio que o sistema capitalista está condenado a cometer.
1 comentário:
Era para já o ter citado... mas não perde pela demora, será mais tarde e não agora.
BES e Gaza, são versões diferentes desta mesma desgraça...
Boa tese
Excelente premonição
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