Do Intendente sem putas ao Cais do Sodré sem putas a pé. Caminhando com passo largo, acompanhado por uma amizade honesta mas descartável, trocávamos a segurança dos passeios pelas estradas. Já foi tudo fodido. Como é bela Lisboa! Do charmoso degredo de edifícios escuros da Almirante Reis ao charmoso degredo de fachadas iluminadas da Baixa. Calçada forrada de jazigos de cartão e cheiro de futuro desistido. Preferimos o risco de sermos dilacerados por um automóvel embriagado. Descartáveis. Constatar a realidade, isto é, absorver as feições que dormem nas fachadas, não é força motriz de quem corre para o futuro, para o último eléctrico ou comboio da noite.
- É melhor correres senão perdes o comboio
Caminhando pela Baixa com passo largo, acompanhado pelos edifícios iluministas e que a burguesia em ascensão outrora mandou construir, absorvo as raízes que sobram e seguram a Cidade até ao próximo comboio. Como é bela Lisboa! Além de madeira e argamassa, o futuro era outro dos elementos de construção que a classe dominante usava. Mas deixou de usar. Haxixe? Não, obrigado.
O torniquete impediu-me de apanhar a tempo o comboio. Sou descartável. Fiquei à espera do próximo e último. Sozinho, e um segurança só que complementava a linha de torniquetes. Fundamental. Pouco se ouve da cidade. A fila de lâmpadas no tecto falso fazem um contínuo zumbido. Aragem húmida e fresca no pescoço e a vista num grupo de pernas nuas de tenra lascívia. Está tudo fodido. Agora esperam o comboio mais dois além de mim. O rapaz enrola erva. O homem enrola a cabeça entre os braços. Esperam em gestos de futuro desistido. Quererão realmente apanhar o comboio?
Pouco se ouve da cidade. Apenas gritinhos estridentes que as carnes por fecundar fazem. Chega o comboio e jorra as últimas pernas na noite. Como é bela Lisboa! Lasciva. Entra-se nas carruagens em movimentos de futuro desistido. Não sei se a Cidade nos descartou ou se nós a descartamos ao introduzirmo-nos entorpecidos no comboio.
Da janela surgem duas construções. São as próximas fachadas da sede da companhia de electricidade. Destoam em altura e em história o rio e não durarão além de meia-dúzia de décadas. Penetrando a aparência vislumbra-se que não têm raízes e não têm em conta o comboio. Aço e vidro de fachadas-marketing da aparência pela aparência. Descartáveis.
Mais jazigos de cartão ocupados. Junto, mais jazigos de alvenaria sem corpos dentro! Descartáveis. Entorpecidos com álcool enrolado dentro da cabeça enrolada entre os braços enrolados nas fachadas enroladas pelos sons e sonhos desistidos.
- Seu bilhete sffv. obrigado
A Cidade só resistirá como Lisboa quando deixarmos de evitar tomar consciência dela. E de nós, que lhe damos vida. Não fosse a cidade uma fôrma da forma como somos. Só resistirá se a tomarmos como nossa e a resgatarmos desta classe predominante que tudo torna descartável. Predominarmos nós, finalmente, que sempre fomos a raiz da Cidade. Trabalhadores! Não fosse a luz da cidade pintada com nossas mãos. Não tivesse Lisboa a forma da fôrma que lhe somos.
- É melhor correres senão perdes o comboio
Caminhando pela Baixa com passo largo, acompanhado pelos edifícios iluministas e que a burguesia em ascensão outrora mandou construir, absorvo as raízes que sobram e seguram a Cidade até ao próximo comboio. Como é bela Lisboa! Além de madeira e argamassa, o futuro era outro dos elementos de construção que a classe dominante usava. Mas deixou de usar. Haxixe? Não, obrigado.
O torniquete impediu-me de apanhar a tempo o comboio. Sou descartável. Fiquei à espera do próximo e último. Sozinho, e um segurança só que complementava a linha de torniquetes. Fundamental. Pouco se ouve da cidade. A fila de lâmpadas no tecto falso fazem um contínuo zumbido. Aragem húmida e fresca no pescoço e a vista num grupo de pernas nuas de tenra lascívia. Está tudo fodido. Agora esperam o comboio mais dois além de mim. O rapaz enrola erva. O homem enrola a cabeça entre os braços. Esperam em gestos de futuro desistido. Quererão realmente apanhar o comboio?
Pouco se ouve da cidade. Apenas gritinhos estridentes que as carnes por fecundar fazem. Chega o comboio e jorra as últimas pernas na noite. Como é bela Lisboa! Lasciva. Entra-se nas carruagens em movimentos de futuro desistido. Não sei se a Cidade nos descartou ou se nós a descartamos ao introduzirmo-nos entorpecidos no comboio.
Da janela surgem duas construções. São as próximas fachadas da sede da companhia de electricidade. Destoam em altura e em história o rio e não durarão além de meia-dúzia de décadas. Penetrando a aparência vislumbra-se que não têm raízes e não têm em conta o comboio. Aço e vidro de fachadas-marketing da aparência pela aparência. Descartáveis.
Mais jazigos de cartão ocupados. Junto, mais jazigos de alvenaria sem corpos dentro! Descartáveis. Entorpecidos com álcool enrolado dentro da cabeça enrolada entre os braços enrolados nas fachadas enroladas pelos sons e sonhos desistidos.
- Seu bilhete sffv. obrigado
A Cidade só resistirá como Lisboa quando deixarmos de evitar tomar consciência dela. E de nós, que lhe damos vida. Não fosse a cidade uma fôrma da forma como somos. Só resistirá se a tomarmos como nossa e a resgatarmos desta classe predominante que tudo torna descartável. Predominarmos nós, finalmente, que sempre fomos a raiz da Cidade. Trabalhadores! Não fosse a luz da cidade pintada com nossas mãos. Não tivesse Lisboa a forma da fôrma que lhe somos.
1 comentário:
"Lisboa, depois de "Menina e Moça", está sendo o quê? Que poema escrevia hoje Ary?"
Bruno, saiu com este titulo
e, claro
és citado
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