No próximo domingo há eleições para o parlamento europeu. O enredo é difuso. É assim a realidade, cheia de contradições. Acontecimento enredado por ideias e imagens épicas e fabulosas que é na verdade outra coisa. Falam em «Europa» quando é apenas «União Europeia»: a Europa existia antes da UE e continuará a existir depois desta. Falam em «eleições europeias» quando são apenas para o «Parlamento Europeu» [link]. As eleições ajudam a dar uma aparência de democracia, mas a aparência não coincide com a realidade concreta. O Parlamento Europeu tem poderes muito limitados. Aqueles que mandam na UE não são eleitos. O épico não é fabuloso, é angustiante. A ilusão e ignorância perante estes assuntos permite-nos poupar nos ansiolíticos e apreciar a grandiosidade sinfónica do Hino da Alegria. Não o tenho ouvido ultimamente!
É épico, é sim. É enorme, o «monstro europeu». Sensação de esmagamento. Somos demasiado pequenos. Insignificantes. Que fazer? Tamanho monstro só pode ser combatido com um movimento de massas - maldita consciência! Individualmente, temos uma infinitésima importância na mudança. Votar é importante, mas é infinitésimalmente útil. É-o mesmo escolhendo colocar a cruz no Partido da classe operária - a classe progressista - e já em si um grande movimento de massas. O enredo é contraditório. É útil e inútil. É crucial e ao mesmo tempo infinitesimal, isto é, aproximadamente igual a inútil.
Em A Peste, de Albert Camus, a desesperança tomou contra da cidade de Oran, uma tragédia de contornos difusos e inicialmente ignorados pela maioria população era na realidade bastante concreta, era a Peste. Os habitantes morriam pelo meio das ruas ou agonizavam em suas casas. Ela parecia imparável. No entanto, apesar da ausência de esperança, houve quem tivesse organizado equipas de saneamento, tratado os doentes, dado a vida por muitos que se limitavam a olhar, ignorando a sua própria utilidade infinitesimal, cobardes perante o épico desenvolvimento da tragédia.
Fascina-me este estranho fenómeno. Mesmo quando está claramente tudo perdido, e a tragédia é imbatível, há alguém que num insensato altruísmo se maça para fazer algo de útil. Infinitesimalmente útil. E, por fim, demonstram na prática que a tragédia só era inevitável na aparência, na voz e pensamento da maioria das pessoas. Foi o que fizeram os povos da União Soviética enfrentando o maior exército da História. Foi o que fizeram os comunistas e outros democratas na década de 60 em Portugal: quantos acreditariam que poucos anos depois o regime fascista cairia perante uma revolução democrática e nacional rumando, embora temporariamente, para o socialismo?
Quantos de nós acreditam ser possível que as amarras do Euro e da União Europeia possam estar prestes a cair? No entanto, há quem incorpore já equipas de saneamento. Tal como o exército nazi e o regime fascista português, foi uma estranha soma de acções individuais infinitésimais (mas organizadas) que remeteram na cidade de Oran a Peste para o passado.
Mas nem sempre as histórias acabam bem.
É épico, é sim. É enorme, o «monstro europeu». Sensação de esmagamento. Somos demasiado pequenos. Insignificantes. Que fazer? Tamanho monstro só pode ser combatido com um movimento de massas - maldita consciência! Individualmente, temos uma infinitésima importância na mudança. Votar é importante, mas é infinitésimalmente útil. É-o mesmo escolhendo colocar a cruz no Partido da classe operária - a classe progressista - e já em si um grande movimento de massas. O enredo é contraditório. É útil e inútil. É crucial e ao mesmo tempo infinitesimal, isto é, aproximadamente igual a inútil.
Em A Peste, de Albert Camus, a desesperança tomou contra da cidade de Oran, uma tragédia de contornos difusos e inicialmente ignorados pela maioria população era na realidade bastante concreta, era a Peste. Os habitantes morriam pelo meio das ruas ou agonizavam em suas casas. Ela parecia imparável. No entanto, apesar da ausência de esperança, houve quem tivesse organizado equipas de saneamento, tratado os doentes, dado a vida por muitos que se limitavam a olhar, ignorando a sua própria utilidade infinitesimal, cobardes perante o épico desenvolvimento da tragédia.
Fascina-me este estranho fenómeno. Mesmo quando está claramente tudo perdido, e a tragédia é imbatível, há alguém que num insensato altruísmo se maça para fazer algo de útil. Infinitesimalmente útil. E, por fim, demonstram na prática que a tragédia só era inevitável na aparência, na voz e pensamento da maioria das pessoas. Foi o que fizeram os povos da União Soviética enfrentando o maior exército da História. Foi o que fizeram os comunistas e outros democratas na década de 60 em Portugal: quantos acreditariam que poucos anos depois o regime fascista cairia perante uma revolução democrática e nacional rumando, embora temporariamente, para o socialismo?
Quantos de nós acreditam ser possível que as amarras do Euro e da União Europeia possam estar prestes a cair? No entanto, há quem incorpore já equipas de saneamento. Tal como o exército nazi e o regime fascista português, foi uma estranha soma de acções individuais infinitésimais (mas organizadas) que remeteram na cidade de Oran a Peste para o passado.
Mas nem sempre as histórias acabam bem.
1 comentário:
Na minha opinião, a esperança não cabe nos movimentos de luta. A esperança é uma expectativa passiva que traz à luz da realidade a absurdidade da nossa relação com o mundo das coisas. A esperança é, sim, sem dúvida, a própria inutilidade. A esperança é um exercício de futurologia em estado de espera. Migremos a esperança para o canto das desnecessidades, e abracemos a força dinâmica da acção e da razão. Não fiquemos à espera dos frutos, produziremos a satisfação das nossas necessidades pela capacidade dos homens. Por cima da realidade absurda, construiremos a realidade humana em todo o seu esplendor.
A esperança é para os ineptos, a razão estará do lado dos agitadores.
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