Ontem um senhor com cinquenta e muitos anos fazia conversa comigo. Dava grande importância em ser simpático para tudo e todos. As outras pessoas importam-lhe hoje mais do que antes, pareceu-me. Provavelmente um sinal de que nunca como agora ele precisa tanto dos demais. Explicitou que gostava de falar comigo! Logo eu que não gosto de fazer conversa de circunstância...
Perguntei-lhe, a certa altura, o que vinha ali fazer. Ele ia explicar, e para isso percebi que teria de puxar pelo curriculum, pela experiência, por tudo aquilo que o fazia importante para estar ali estar a fazer o que foi fazer.
- Sabe, eu...
Foi então que ele interrompeu a resposta ainda antes de a começar, olhou fixamente em frente, com ar reflexivo e
- Não! Na verdade sou um indivíduo completamente vulgar. Vulgaríssimo. Sou vulgaríssimo.
Pausa. Olhar fixo em frente e reflexivo.
- Sou um indivíduo vulgaríssimo.
Momento intenso. Olhar intenso. Tom de voz intensíssimo. Não lhe respondi. Em momentos destes penso de mais para conseguir ter espaço para conseguir falar. Lembrei Carl Sagan. As famosas passagens de Cosmos em que tudo depende da distância de perspectiva.
A Terra, a Via Láctea, é só uma partícula de pó no imenso Espaço. Tão pequenina é a nossa constelação que o planeta Terra se torna insignificante. Poeira cósmica vulgar, vulgaríssima. Porém, é praticamente tudo o que temos. Para nós, que aqui vivemos, a Terra é o planeta mais importante. [Pale Blue Dot]
Ali ia um homem vulgaríssimo.
1 comentário:
Temos que passar a dar
importância
a cada homem vulgar
(fizeste bem,
o homem precisava de...
desabafar
com alguém
vulgar)
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