Ela defendia a praxe. Argumentava. Disse-lhe que me fazia confusão ver pessoas em fila indiana, juntinhas, caminhando passo a passo para o mesmo ponto. Disse-lhe que a ordem indiana pode ser adequada e positiva quando se alinham até ao talho, para buscar umas febras e evitar confusões. Mas disse-lhe, também, que ver pessoas em fila indiana para serem talhadas me fazia mingar as vergonhas. Lembrei-lhe que há uns anos a malta fez indianas filas para entrar nuns comboios. Há um lado conformista e acrítico nas filas de miúdos com as cuecas por cima das calças que me lembra Auschwitz, e disse-lhe. Ela riu, fingiu não me levar a sério, não quis levar-me a sério (aqui foi sensata), mas ouviu-me e perdeu-se no raciocínio dela própria. Engraçou comigo! Falou que eu era um brincalhão (mas a merda é que eu falava a sério). Dava a entender que queria ser praxada e eu não estava para ali virado. Talvez o problema fosse somente o facto de preferir as morenas, mas com aquela fila de argumentos indianamente encarreirados já toda ela me era no meu imaginário um holocausto. Preparei a fuga. A sua gesticulação convidava-me para fazer fila indiana, com ela. Confesso, hesitei, tive dúvidas se deveria enfileirar-me nela, mas a História ensina muita coisa e tomei uma decisão. Fiz a escolha certa. Fiz o que devia ter feito. E agora estou arrependido de não lhe ter segurado a mão e apanhado o comboio. Afinal, ela defendia a praxe.
2 comentários:
Praxe ou assédio sexual?
Mas... não está nada mal
Bruno!
Uma coisa é a praxe e outra o engate. Não soubeste distinguir. Vê lá se aprendes...
"Le coeur a des raisons que la raison na connait pas""
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