Mar Morto - Jorge Amado
Foi o primeiro livro que me fez chorar. Foi há alguns anos, mas ainda transporto comigo esse momento. É como a memória do meu primeiro beijo: foi um acidente.
Os Cus de Judas - António Lobo Antunes
Primeiro livro que li de Lobo Antunes. Na minha vida há uma fase pré e pós. Recordo-me que me foi dado a ler por um amigo: «escreves exactamente como este gajo». Li. Não se confirmou: não escrevia como aquele gajo. Hoje já nem sei como devo escrever, apetece-me fazê-lo nos relatórios e nos exames mas não me deixam. Há aquela linguagem «científica». Que chatice. Quero escrever como Lobo Antunes em panfletos revolucionários.
A Morte de Ivan Ilitch - Liev Tolstói
Como é que imagino o lento processo da morte? A resposta para mim é Ivan Ilitch. No Hospital Santa Maria, presenciei essas mortes. Se fui capaz de as reconhecer, devo essa competência a Tolstói.
Tempo Escandinavo - José Gomes Ferreira
José Gomes Ferreira deu nome à minha antiga escola secundária, o mínimo para retribuir a sua simpatia foi lê-lo. Já o tinha feito, em garoto, com As Aventuras de João Sem Medo. Queria algo que me marcasse a memória, e fi-lo com Tempo Escandinavo. Ler o livro ajudou a apaixonar-me pelas miúdas. Acho que me ajudou. Obrigado José Gomes Ferreira. As Anas, Joanas, Elisas, Isadoras, Bárbaras, Dianas, Telmas também deviam agradecer. «Obrigado José Gomes Ferreira» dizem elas no meu imaginário.
Pela Estrada Fora - Jack Kerouac
Ainda hoje acho que não sei pronunciar Kerouac. Não faz mal. Hoje sei apreciar de olhos fechados o Bop e o Hard Bop. Foi ao ler este livro que bebi um copo com Charlie Parker. É daquelas coisas que não esqueço.
A Peste - Albert Camus
Num dos momentos mais marcantes da minha vida, em pleno processo de tratamento, durante os dias do meu internamento, Camus resgatou-me parte da sanidade. Aprendi que para superar cancros e cancros é preciso deixar cair a esperança e fazer o que é preciso. Tive de lidar com a Peste como a cidade de Orão lidou.
Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez
Que gozo me deu a ler este livro. Foi qualquer coisa de inacreditável. Houve uma parte de mim que se tornou homossexual: apaixonei-me em bruto pela escrita de García Marquez. Ao ler Cem anos de Solidão senti que se falava da história da América Latina e o livro atiçou, em mim, toda esta paixão-combustão que tenho por aquelas terras e por aquelas gentes.
Lolita - Vladimir Nabokov
Leio sem me preparar para o que vou ler. Entro nos livros completamente virginal e descomprometido. Arrependo-me tantas vezes quando me aventuro sem preparo. Lolita foi um soco no estômago. Foi um pontapé nos testículos. E nunca me arrependi dessa aventura às cegas. Acredito que todos nós guardamos na memória a nossa Lolita. A minha é uma Lolita não ninfeta. Não sou um Humbert Humbert para me deixar seduzir por crianças.
Cão como Nós - Manuel Alegre
Kurica é como o meu Lux e a minha Milady. E nos pronomes possessivos, não há relação cão-dono. Tudo se aproxima e se confunde como a relação que se tem com irmãos. Nunca consegui separar esta forma de me relacionar com os cães. Este livro ajudou-me a aceitar o adeus do meu Labrador. Se tivesse sido qualquer um de nós a despedir-se primeiro, ele teria sofrido infinitamente mais a nossa falta. É o que me consola.
A Mãe - Máximo Gorki
Não sei o que dizer sobre este livro. Não foi o primeiro que me fez chorar: foi o segundo. É um livro que me entristeceu ao mesmo tempo que me motivou. Há um misto de emoções, que se relacionam entre si, e que fez desta obra, uma das que mais me marcou. Revejo-me neste retrato que foi escrito por Gorki. Uma pessoa perdida e alienada que se entranhou nas suas obrigações até se libertar. Não sei o que dizer sobre este livro.Ideia baseada a partir do 10 mil insurrectos
Imagem retirada daqui
1 comentário:
Estava
quase a confundir a minha
com a tua casa
(na estante os livros são os mesmos)
Quando dei por mim a desfazer
a confusão
Chorámos com livros diferentes
e Lobo Antunes é um canastrão
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