"Uma noite, quantas madrugadas tem? Andas a contar? Eu não. Lhes apanho só, conforme lhes vejo e sinto. Atrevo: uma só noite tem bué de madrugadas; cada uma dessas madrugadas tem bué de brilhos. Confesso-me aqui, nos lábios da sinceridade: gosto muito disso - acreditar no impossível das palavras, lhes maltratar no português delas, ser livre na boca das estórias em deixar estar aqui, sentado dentro de mim, abismático. E sonhar!, sonhar até chegar nesse quintal onde dentro de mim nascem barulhos e não só: nascem brilhos. Vejo búzios que se riem à toa e aprendo: posso descansar as vozes como se fossem conchas de pousar na areia depois de lhes apanhar numa noite de lua brilhante. Depois do barulho das vozes os búzios se calam e eu, no respeito, me calo também." (Quantas Madrugadas Tem a Noite - Ondjaki, página 110)
Comentei em baixo:
«As nossas noites levam uma infinidade de madrugadas e lusco-fusco, varinha mágica, ideias soltas: parir insónias e não haver copos nem avilo a quem contar estórias. Ondjaki é poeta que se arranca da terra em estado puro. Esqueçam os outros diamantes, e desenterremos estes diamantes, Angola estaria muito melhor.»
1 comentário:
Desta infinda noite
só me lembro
do fim da tarde, até ao anoitecer
e ainda espero a madrugada
apenas uma madrugada, que tarda
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