Gostamos de heróis. Personificações dos nossos desejos capazes de lutar por concretizá-los. Embora, nunca saibamos o que exactamente desejamos lá no fundo! António, nome fictício, é um desses heróis.
António, herói desta história, foi com um casal amigo passear e, depois,
já mais calmo, presenteou a família com esticar do pernil. Quem ler a notícia que poderá concluir? Esta
história é um thriller da psicanálise do acaso. Esta história é mais um caso de pseudo-análise de classe, mas poucos se importam por a média não definir as relações sociais da
propriedade moderna ou outra qualquer. Que interessa isso quando esta é uma daquelas histórias em que, novamente, a realidade é tão real como a
ficção. António, à falta de recursos imediatos para fazer cinema (ou jogar
vídeo-jogos), traz a ficção à realidade - num vice-versa que funde ambas. Imagem e semelhança. António, herói desta história,
artista plástico da vida, e plástico artista da ficção, inaugura sem querer nem saber o neo-ficcismo do pós-pós-modernismo - algo que apenas no futuro ficaremos a saber e já depois de estarmos todos mortos. António ou Zé, sobrenome Ninguém ou Todos. Nós, enquanto continuarmos a escrever coisas, as coisas escrever-se-ão por elas, transformando Antónios em jornais e Jornais em antónios.
Note-se bem. Esta notícia é antes um ensaio sociológico num enredo cinematográfico que ao ser notícia se transfigurou num acontecimento real. E vice-versa. Este acontecimento real transfigurou-se em notícia num enredo cinematográfico que é antes um ensaio sociológico da notícia.
Por fim, vamos mais ao fundo da questão e/ou sobrevoemos de vez sobre ela. António, herói desta história, esfaqueia o desejo concretizado de família e num momento social perfeito. Nenhum desejo, elevado e humanizado em fantasia, é concretizável por inteiro sem matar o sonhador. Não haverá maior pesadelo que a própria fantasia em plena realização. O abismo da plena realização para o vazio levou o herói desta história, António, a matar os seus adereços de vida mais queridos, mulher e filha, à facada! Qualquer pesadelo é melhor que o da plena realização.
António, herói desta história, arquétipo pós-moderno das massas, Messias pós-pós-moderno, imagem de plástico da nossa semelhança, salvou-se da plena concretização com a fusão da realidade com a ficção. Mas condenou-nos a todos. Os textos noticiosos, fictícios ou não, tornaram-se o enredo da vida, sendo o inverso válido mas redundante escrevê-lo. O fim está próximo. Basta alguém escrevê-lo. Fim.
1 comentário:
Depois de te ler
mando, definitivamente,
o Gonçalo M. Tavares
dar uma volta
prefiro uma crónica dos dias de raiva
a uma redonda metáfora
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