Um dia ainda irei conhecer alguém que teime que a água pode passar de líquido a gasoso sem um processo violento de transformação. E sem dar "saltos". Dirá essa pessoa, cheia de boas intenções, que a água deve passar de um estado para o outro sem sobressaltos, só possíveis - na cabeça dessa pessoa - quando pequenas mudanças (pragmáticas, claro) ocorrem na água permitindo a transformação desta num gás sem quase se dar por isso. Seria uma passagem suave, calma, sem levantar ondas, borbulhas e fervuras. No fundo, como se a fervura não fervesse. Como se as borbulhas não borbulhassem. Como se ninguém desse pela diferença entre se beber um copo de água líquida e um copo de vapor de água. Como se essa passagem de estado não fosse uma mudança radical. Mas essa pessoa dir-me-á que me devo deixar de radicalismos, preconceitos científicos, fantasias juvenis e passar a ser realista, entre outras considerações dignas de sublimação. Ela ignorará, igualmente, que a água quando sólida, gelada, entre revoluções francesas e outras mais, se fez líquida. Em boa verdade, já conheço muita gente assim, que, sem o saberem, acham que é possível a água passar de estado líquido para gasoso sem um processo revolucionário. São os reformistas aquáticos.