tag:blogger.com,1999:blog-38551929226030000712024-03-05T07:54:55.743+00:00Da Peste à CentelhaPara quê fazer a revolução se vamos todos morrer?Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.comBlogger104125tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-2820011416031158812015-12-30T14:48:00.000+00:002015-12-30T14:48:51.977+00:00"A Arte, o Artista e a Sociedade" - Álvaro Cunhal em 1997Registo videográfico efetuado em Coimbra da apresentação realizada na Faculdade de Letras, do livro "A Arte, o Artista e a Sociedade" de Alvaro Cunhal no ano de 1997... [<a href="https://www.facebook.com/antoniomanuel.ramires/videos/434120520132301/" target="_blank">daqui</a>]<br />
<br />
<div id="fb-root">
</div>
<script>(function(d, s, id) { var js, fjs = d.getElementsByTagName(s)[0]; if (d.getElementById(id)) return; js = d.createElement(s); js.id = id; js.src = "//connect.facebook.net/pt_PT/sdk.js#xfbml=1&version=v2.3"; fjs.parentNode.insertBefore(js, fjs);}(document, 'script', 'facebook-jssdk'));</script><br />
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<blockquote cite="https://www.facebook.com/antoniomanuel.ramires/videos/434120520132301/">
<a href="https://www.facebook.com/antoniomanuel.ramires/videos/434120520132301/"></a><br />
Um registo com 18 anos, que no mundo frenético em que vivemos, me parece uma eternidade.Registo videográfico efetuado em Coimbra da apresentação realizada na Faculdade de Letras, do livro "A Arte, o Artista e a Sociedade" de Alvaro Cunhal no ano de 1997..De minha parte, coloco este registo sem propósito politico ideológico, apenas, a vontade de partilhar a memória de um momento.<br />
Publicado por <a href="https://www.facebook.com/antoniomanuel.ramires">Antonio Manuel Ramires</a> em Terça-feira, 29 de Dezembro de 2015</blockquote>
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Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-39783243223102276482015-11-10T19:49:00.000+00:002015-11-11T01:07:13.494+00:00República Democrática dos Estados Unificados do Portugalistão<div style="text-align: justify;">
Isto é histórico! Aconteceu mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na República Democrática dos Estados Unificados do Portugalistão, país asiático, outrora uma República Socialista Soviética, pelo menos entre 1974 a 75 (há coincidências incríveis!!), ocorreu em 2014 algo que é factualmente histórico:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na R.D.E.U.P. havia apenas 10 partidos. Um de direita. Nove de esquerda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O partido mais votado em 2014 foi o de direita com 11% dos votos. O segundo teve 10.01%.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos aqueles que no dia-a-dia pouco ou nada fizeram em prol da democracia, de repente, acusaram que era pouco democrático que o partido de direita, que foi o mais votado, "vitorioso" com 11% de votos, não fosse o partido do Governo da República do Portugalistão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acusaram ainda que era ilegítimo, uma falta de respeito, imoral, que fosse o segundo partido mais votado, com 10.01%, a preparar-se para formar governo. Só possível por estarem sedentos de poder, claro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para eles a "vitória" da direita com 11% versus os 89% da esquerda, fazia com que um governo de esquerda fosse uma aberração. Nunca compreenderam que as eleições não são um jogo para ver quem sai mais votado, mas um acto político de escolhas de políticas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na República Democrática dos Estados Unificados do Portugalistão venceu a democracia existente: a maioria política de 89% proporcionou o governo possível, o mais coerente quanto aos resultados eleitorais e respectiva relação de forças no Parlamento. Assim foi.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-12247915569291566902015-10-02T00:16:00.001+01:002015-10-02T00:16:32.306+01:00Descarrilou-se no tempo!<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
Escutem:<br />
O Billy Pilgrim descarrilou-se no tempo.<br />
Billy deitou-se a dormir quando era viúvo senil e acordou no dia do seu casamento. Entrou por uma porta em 1955 e saiu por outra em 1941. Voltou a sair por essa porta e descobriu que estava em 1963. Viu o seu nascimento e morte, muitas vezes, diz ele, e faz visitas fortuitas a todos os acontecimentos entre ambos. </blockquote>
</div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: right;">
in <i>Matadouro Cinco ou a Cruzada das Crianças</i>, Kurt Vonnegut</div>
</blockquote>
<br />
<br />
Apesar de tudo continuo a ler o livro com a esperança de perceber melhor e com fidedignidade o que se passou em <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Bombardeamento_de_Dresden" target="_blank">Dresden</a>. Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-77472928610946148232015-09-03T12:37:00.001+01:002015-09-03T13:08:15.908+01:00Quarta Dimensão!<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://www.facebook.com/701263673258450/videos/990765944308220/" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" target="_blank"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWCuuNk8mjp8cNgTYSwQkDJqqpBvoV0h0tW9ZVgShc4a912d74qONJVuYbTkB1lH-DVW6G5q8M1iVfFEJL_k4gJhT_bs_Bx8u53j9pFvPL3bR6EvrYcg1xLieU5fb26c_lHBtsK_-BeloW/s400/siria+boy.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: white; color: #666666; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 12.864px; text-align: left;"><a href="http://www.publico.pt/mundo/noticia/familia-do-menino-afogado-da-imagem-estaria-a-tentar-chegar-ao-canada-1706729" target="_blank">*</a></span></td></tr>
</tbody></table>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Isto às vezes é tremendo porque a gente quer exprimir sentimentos em relação a pessoas e as palavras são gastas e poucas. E depois aquilo que a gente sente é tão mais forte que as palavras...</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
António Lobo Antunes</blockquote>
É por isto e muito mais que há quem seja <a href="https://www.youtube.com/watch?v=yizGKXQdNVY" target="_blank">«migrante» de amor e ódio do que virá</a>.Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-14810018461087904932015-06-07T17:13:00.000+01:002015-06-07T17:13:44.857+01:00Segunda Guerra Mundial em números<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="281" mozallowfullscreen="" src="https://player.vimeo.com/video/128373915" webkitallowfullscreen="" width="500"></iframe>Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-78556667648314780982015-05-09T00:01:00.000+01:002015-05-09T02:04:09.405+01:009 de Maio - Dia da Vitória<div style="text-align: justify;">
A 2 de Maio de 1945 o exército da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tomava o Reichstag. A bandeira vermelha com a foice e o martelo, hasteada por um soldado soviético, ondulava em Berlim. Passados alguns dias, a 8 de Maio de 1945, a Alemanha nazi assinava a sua rendição incondicional. A 9 de Maio o povo soviético comemorava em Moscovo a vitória na «Grande Guerra Patriótica», fazendo esse dia passar à História como o «Dia da Vitória». Tinha terminado a II Guerra Mundial no continente europeu, seguir-se-ia a derrota do Japão imperial no continente asiático. [1]<br />
<br />
<h2>
Discursos de Stalin</h2>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Esta é uma raridade, legendada até agora em poucas línguas: o discurso de Stálin na Praça Vermelha diante das Forças Armadas, no aniversário de 24 anos da Revolução Bolchevique de Outubro, a 7 de novembro de 1941 - assim nos apresenta o vídeo legendado e publicado pelo canal de Youtube Pan-Eslavo Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O autor da tradução e legendagem contextualiza o primeiro vídeo:<br />
Em plena invasão dos nazistas alemães à União Soviética, iniciada em junho de 1941, e com o inimigo às portas de Moscou e Leningrado (atual São Petersburgo), Ióssif Stálin, Secretário-Geral do Partido Comunista (bolchevique) da URSS, toma uma decisão ousada: realizar a parada de comemoração do aniversário da revolução socialista nas mais duras condições, sob cerco e sob forte tensão. A justificativa é a de que o mesmo foi feito com sucesso em 1918, durante a Guerra Civil Russa, comemorando-se o primeiro aniversário da Revolução de Outubro, enquanto as tropas brancas e seus auxiliares estrangeiros cercavam militarmente o governo bolchevique.</div>
<div>
<br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/No9l158OxXs?rel=0" width="420"></iframe></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/mbjFj934mc8" width="560"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Trata-se do excerto de um informe de Iosif Stalin, líder soviético, à sessão solene do Soviete de Moscou de Deputados Trabalhadores com organizações partidárias e sociais da cidade de Moscou, ocorrida a 6 de novembro de 1944, informe cujo texto foi publicado na íntegra na edição do jornal Pravda do dia seguinte. [2]</span><br />
<br />
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/0c6IWAUuY-U" width="560"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Nova tradução e primeira legendagem do discurso do líder soviético Iosif Stalin celebrando a capitulação total do exército alemão e a vitória da URSS e seus aliados na Segunda Guerra Mundial, a 9 de maio de 1945. Foi transmitido em russo pelo rádio a toda a população, e constitui um documento histórico da maior importância. [2]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">___________________________________</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">[1] Introdução retirada ao texto de Ângelo Alves no Avante!, <a href="http://www.avante.pt/pt/2162/opiniao/135378/" target="_blank">aqui</a>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">[2] Vídeos e textos retirados do excelente canal de Youtube <a href="https://www.youtube.com/user/PanEslavoBrasil/" target="_blank">Pan-Eslavo Brasil</a>.</span></div>
</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-29539407719665640902015-04-14T00:05:00.000+01:002015-04-14T00:33:22.016+01:00Episódios do Absurdo #7<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='420' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dxjqPcrmEMJDmQw2J2EZMG431cuYsiW_twnBRVeKpWyme2sL3dGok-65eUz7Hs9SGcCZ78kT_LRG93EqJOscw' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Isto está tudo ligado. Conheço um homem que se reformou. E o que fazer com o tempo? Dedicou-se a desenvolver um <i>hobby </i>para vencer tédio. Então ele decidiu desenvolver uma animosidade. Boa ideia! Decidido como é comprou o Manual do Condomínio. Arranjou um épico, justiceiro e legalista motivo por causa das dispensas do prédio. As dispensas fora-da-lei beneficiam todos, excepto a lei. Foi assim que o condomínio tornou-se a sua vida. Coloriu com um estudo profundo e <i>post-its</i> o Manual do Condomínio. Quatrocentos de cinquenta e duas páginas a fundo. Adquiriu valências. Diz que sabe mais que um advogado. E sabe. Vai para tribunal. Sozinho, contra restantes condóminos. Coragem. Uma vida cheia de sentido. Um sentido! Isto está tudo ligado.<br />
__________________<br />
<span style="font-size: x-small;">Filme: <a href="http://www.aljazeera.com/programmes/witness/2014/03/sunday-brazzaville-2014322104445836363.html" target="_blank">Sunday in Brazzaville </a></span></div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-8496625987823896982015-04-11T01:40:00.001+01:002015-04-12T03:08:28.553+01:00Jazz e Local de Culto<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://jazz.pt/media/uploads/reports/Universal%20Indians%20%2B%20Joe%20McPhee%20-%20SMUP%202015-04-10_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://jazz.pt/media/uploads/reports/Universal%20Indians%20%2B%20Joe%20McPhee%20-%20SMUP%202015-04-10_large.jpg" height="266" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://jazz.pt/report/2015/04/11/dose-dupla/" target="_blank">Universal Indians & Joe McPhee, 11 de Abril de 2015</a></td></tr>
</tbody></table>
Acabei de ver o melhor concerto de Jazz que alguma vez vi. Os <span class="_3c21"><a href="https://youtu.be/Op-R6rrr8HQ" target="_blank">Universal Indians com Joe McPhee</a>, n</span>a Smup, Parede.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fui sozinho. Subi ao sótão da Smup e sentei-me com antecedência nas cadeiras da frente, fiquei a observar os músicos. Sem nada ter dito ou feito, apenas sentado à espera do público, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=KfQJPRMeye8" target="_blank">Joe McPhee</a> tinha claramente uma áurea que só as grandes figuras míticas do Jazz e Blues conseguem ter. <i>Céus!, como pode estar um ser raro destes num sótão na Parede?!</i> Procurei mandar uma mensagem ao André - que não pôde aparecer por causa do canalizador - a dizer que Joe McPhee estava ali sentado a existir, como se pudesse haver seres mitológicos a existir no concreto, mas perdi o contacto do rapaz. Há momentos que se têm de alguma forma partilhar com alguém. Um pôr-do-sol não é tão belo quando se o vê sozinho, dizia-me uma amiga. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foram chamar o público aos andares abaixo. Fez-se a apresentação da banda como sempre ali se faz. <i>Vai começar o concerto!</i> Simplesmente, quase sem aviso, a banda explodiu em som. Violento, como nunca em outro estilo de música ouvi. Violento, contudo, não é a palavra adequada. Como gostaria eu de saber qual a palavra que descrevesse com justiça <a href="http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=768092" target="_blank">aquilo</a>! Soava a Liberdade. Desliguei-me pairando naquela polifonia multilingue e frenética poliritmia emocional que destruía a cada verso sónico as convenções gramaticais da música de plástico, projectado num voo saxofónico, irrepetível, transformador. Afinal, há coisas que só se deve experienciar sozinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sabia, antemão, que muito provavelmente iria assistir a um dos melhores concertos de Jazz que já vi, mas jamais que iria ser tão bom. Fiquei vários minutos a observar a banda a arrumar os seus instrumentos e finalmente desci ao andar abaixo para voltar a mim. Abandonara o sótão dos seres mitológicos. Sentei-me a tentar ler o meu livro enquanto voltava ao mundo concreto. Li (ou tentei ler) sossegado entre a confusão do bar até ter condições de voltar a conduzir e voltar para casa. Definitivamente, há uma relação dialéctica entre o abstracto e o concreto, e o Jazz é um dos intermediários. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por muito contraditório que pareça, há pôres-do-sol que se devem assistir sozinho.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-3460809882631645062015-03-17T00:01:00.000+00:002015-03-17T00:01:00.209+00:00Inconformismo - The Great Gig in the Sky<div style="text-align: justify;">
Usamos padrões familiares para evitar cair em desgraça no nosso meio social. As <a href="http://arepublicadoscorvos.blogspot.pt/2015/03/heresia.html" target="_blank">experiências laboratoriais sobre a conformidade de Asch</a> são demonstrativas disso. Sinto cada vez mais falta desse risco de se cair no ridículo na arte em geral. Mas culpa minha, também, por demasiadas vezes apontar o dedo às frustradas tentativas de terceiros em tentarem quebrar os padrões familiares, em particular na música.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1973, durante as gravações de Dark Side of the Moon dos Pink Floyd, Clare Torry foi convidada para vocalizar por cima dos acordes de Rick Wright em The Great Gig in the Sky. A banda não sabia muito bem o que fazer com a música. E colocar Clare a cantar foi ideia de Allan Parsons, produtor do álbum. O curioso é que terminada a gravação da vocalização, Clare mostrou-se embaraçada, pedindo desculpa pela actuação. A banda ficara encantada com a solução dada à indefinição e confusão relativamente ao que fazer com a música em questão. O embaraço teve em parte, acredito eu, na falta de referências relativamente àquele tipo de vocalização. Era um conceito que lhe era estranho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sem este histórico acto de inconformismo não teríamos possibilidade de apreciar esta maravilhosa e desafiante peça de musical que hoje nos parece tão simples e normal.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/J3xc5H_N8ds" width="560"></iframe><br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Todo o <a href="https://www.youtube.com/watch?v=dVPza2BnBXU" target="_blank">álbum </a>é um acto de inconformismo.Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-26016675819032730202015-03-04T22:00:00.000+00:002015-03-04T22:04:03.762+00:00Sr. Romeulloy III - Entre o Nada e o Ser<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCNKAsoZQ3fvd8Qp1AM_inFRXtLTzGUi-qwPAerBRuEDTcEfZJENd6xhL0oOrASo1uvl8YCvOdzW0eL0Hkqx6RSC-J_guRasK7QCniZeYITLirN6DgR7pVOMSVGUJxA-qEzghH1P3sySZr/s1600/molloyy.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCNKAsoZQ3fvd8Qp1AM_inFRXtLTzGUi-qwPAerBRuEDTcEfZJENd6xhL0oOrASo1uvl8YCvOdzW0eL0Hkqx6RSC-J_guRasK7QCniZeYITLirN6DgR7pVOMSVGUJxA-qEzghH1P3sySZr/s1600/molloyy.jpg" height="200" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Em breve ver-me-ei a falar de mim, e só para mim, na terceira pessoa. Algo em breve me acontecerá. Só que ainda não o sei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estou no banho. Dão-me banho. Não sei se estou deitado na banheira ou se sentado ao chuveiro. Os meus movimentos não têm agilidade, ou terão? Meus olhos não focam, se focam vejo desfocado e nublado. Cataratas no chuveiro? Parece que vejo bem a poucos centímetros do nariz, as faces são o que me interessa aos olhos, progressivamente vou vendo melhor a focos mais distantes, mas apenas faces próximas de afecto. Cataratas de água, cascatas de nuvens quentes, ou olhos cansados? Não me consigo equilibrar. Soubesse ao menos se estou sentado num banco no duche, ou se deitado numa banheira de plástico dentro de outra banheira maior de cerâmica. Não consigo ver, percepcionar, discernir sequer meus movimentos. Puxam-me os cabelos. Será que os puxo a mim próprio? São poucos os cabelos, isso eu sei. Não sei se crescem ou se caem. Pelo menos dois tenho. Nem sei. Não sei se cresço ou se mingo. Não sei se ganho ou perco visão. Não sei se me ergo ou se me estendo. Não sei que idade tenho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A partir daqui, inexplicavelmente, vejo-me na impossibilidade de falar de mim na primeira pessoa. Algo me aconteceu. Ou algo ficou por me acontecer. Seja como for, neste momento eu não sou nem me tenho. Isso sei. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Levam-me com urgência para as Urgências. Levaram-me com urgência para as Urgências. O pretérito perfeito, apesar de incerto, confunde-se-me com o presente. Urgência! Assisto-me de fora do corpo o meu corpo. Mas tive corpo? Não sei sequer se aquele meu corpo que olho foi ou será meu. Pulseira amarela ao pulso. Não sei se no meu pulso ou se no de alguém que me acompanha. Meu amor?. Expressões de temor em quem me rodeia. A minha expressão é-me enigmática. Nem consigo perceber se estou ali deitado numa maca, ou se estava ali ao colo de um braço alheio com fita amarela. Mãe?. Nove horas de espera! Corredor sem corrente de ar, paredes?, escuro. Estava frio. Está muito frio. Cada vez mais frio. Alguém se afasta de mim. Não sei se de braços abertos a fecharem-se ou se de pernas abertas a tapar-se. Dois corpos frios se aproximam daquilo que serei eu. Não sei se caminham ou se levitam. Nem se têm corpo. Aproximam-se do que fui eu. Tiram a pulseira amarela e deixam uma etiqueta. Penduram-na no dedão do pé. A etiqueta Nº 251175.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
* * *<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Sr. Romeulloy está impossibilitado de se ser. Não pode, portanto, usar as palavras. Deixou de se falar. Deixou de se ouvir. Todas estas prosas que lemos de Romeulloy não eram mais do que os seus pensamentos ou conversas solitárias. Um quadro semântico pintado em tela de vácuo. Efémero, excepto entre o início e o fim.</div>
<hr noshade="" size="1" width="33%" />
<span style="font-size: x-small;">Link para <a href="http://pestecentelha.blogspot.pt/2014/06/sr-romeulloy-conto-versao-definitiva.html" target="_blank"></a><a href="http://pestecentelha.blogspot.pt/search?q=Sr.+Romeulloy"><b>Sr. Romeulloy</b></a> </span>Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-43019777259261924012015-02-19T00:54:00.002+00:002015-02-19T01:14:16.910+00:00Reformista Aquático<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHyE3NIqcMJuCGEca8flgjM3S3ZI7VUIXM_Ay69KzC-EQRiWQFAo3TqPwW47LyIy7-uZRnvPBTPH0aqkkfuvsN7DSUbO9oAQtCiFfqo_bMVHNiB7twjccUZhlqStfJVKwQiW2WmZ1nkt_3/s1600/gra.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHyE3NIqcMJuCGEca8flgjM3S3ZI7VUIXM_Ay69KzC-EQRiWQFAo3TqPwW47LyIy7-uZRnvPBTPH0aqkkfuvsN7DSUbO9oAQtCiFfqo_bMVHNiB7twjccUZhlqStfJVKwQiW2WmZ1nkt_3/s1600/gra.bmp" height="267" width="320" /></a></div>
Um dia ainda irei conhecer alguém que teime que a água pode passar de líquido a gasoso sem um processo violento de transformação. E sem dar "saltos". Dirá essa pessoa, cheia de boas intenções, que a água deve passar de um estado para o outro sem sobressaltos, só possíveis - na cabeça dessa pessoa - quando pequenas mudanças (pragmáticas, claro) ocorrem na água permitindo a transformação desta num gás sem quase se dar por isso. Seria uma passagem suave, calma, sem levantar ondas, borbulhas e fervuras. No fundo, como se a fervura não fervesse. Como se as borbulhas não borbulhassem. Como se ninguém desse pela diferença entre se beber um copo de água líquida e um copo de vapor de água. Como se essa passagem de estado não fosse uma mudança radical. Mas essa pessoa dir-me-á que me devo deixar de radicalismos, preconceitos científicos, fantasias juvenis e passar a ser realista, entre outras considerações dignas de sublimação. Ela ignorará, igualmente, que a água quando sólida, gelada, entre revoluções francesas e outras mais, se fez líquida. Em boa verdade, já conheço muita gente assim, que, sem o saberem, acham que é possível a água passar de estado líquido para gasoso sem um processo revolucionário. São os reformistas aquáticos.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-23503001741916733372014-11-25T10:01:00.000+00:002014-11-25T00:15:07.916+00:00A Viuva Enjeitada<div class="UFICommentContent" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0" style="text-align: justify;">
<span data-ft="{"tn":"K"}" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body"><span class="UFICommentBody" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0"><span data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0.$end:0:$0:0">Isto
é uma história verídica. A impotência - cruzes canhoto! - era o maior
drama do sr. António, que sobrevivia com sua mulher. A reforma não era boa, chegava a faltar-lhe para os medicamentos, mas o pior era
ter uma mulher marreca.</span></span></span><br />
<br />
<span data-ft="{"tn":"K"}" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body"><span class="UFICommentBody" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0"><span data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0.$end:0:$0:0"><span data-ft="{"tn":"K"}" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body"><span class="UFICommentBody" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0"><span data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0.$end:0:$0:0"><span data-ft="{"tn":"K"}" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body"><span class="UFICommentBody" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0"><span data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0.$end:0:$0:0">Um dia o drama do sr. António deu uma reviravolta. Tudo aconteceu quando sua mulher perdeu, enquanto limpava o chão da antiga fábrica, o
contacto com o chão. Diz quem viu, que ela no ar já ia desmontada e que se terá socorrido de uma Avé Maria que não finalizou. O chão interrompeu-lhe as preces. Esmigalhou o tornozelo. Partiu uma perna em duas. E ao tentar levantar-se abriu o pulso. Mas a reviravolta surgiu aos olhos espantados da vizinhança meses depois: A queda enjeitou a mulher do sr. António!</span></span></span></span></span></span> </span></span></span><br />
<br />
<span data-ft="{"tn":"K"}" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body"><span class="UFICommentBody" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0"><span data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0.$end:0:$0:0">A nova configuração
da mulher levantou o ânimo ao sr. António e a impotência curou-se.</span></span></span><br />
<br />
<span data-ft="{"tn":"K"}" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body"><span class="UFICommentBody" data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0"><span data-reactid=".2u.1:3:1:$comment889563821068735_889609707730813:0.0.$right.0.$left.0.0.1:$comment-body.0.$end:0:$0:0">Isto é uma história verídica, a história de duas pessoas que encontraram felicidade após uma
escorregadela. Enfim, apenas é a crónica de um típico caso de vida, entre as poucas que têm um final feliz. Resta contar que o sr. António e sua mulher não viveram a felicidade por muito mais tempo. Era a impotência do Sr. António que lhe mantinha o sistema
cardiovascular abaixo dos limites. Certo dia, num momento alto de suas sobrevivências e de unção dos corpos, uma coronária não resistiu. A felicidade
deu cabo dele.</span></span></span></div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-90856807544919454552014-11-09T15:04:00.001+00:002014-11-09T15:05:42.275+00:00Episódios do Absurdo #6<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/MQm5BnhTBEQ" width="560"></iframe></div>
<br />
<div style="text-align: left;">
Absolutamente incrível, admirável, estúpido, ... , quase tudo o que é relativo à espécie humana concentrado num vídeo.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-71484883258563620982014-10-22T13:46:00.000+01:002014-10-22T15:15:26.594+01:00António - Herói Pós-Moderno<div style="text-align: justify;">
Gostamos de heróis. Personificações dos nossos desejos capazes de lutar por concretizá-los. Embora, nunca saibamos o que exactamente desejamos lá no fundo! António, nome fictício, é um desses heróis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
António, herói desta história, foi com um casal amigo passear e, depois,
já mais calmo, presenteou a família com esticar do pernil. Quem ler a notícia que poderá concluir? Esta
história é um <i>thriller </i>da psicanálise do acaso. Esta história é mais um caso de pseudo-análise de classe, mas poucos se importam por a média não definir as relações sociais da
propriedade moderna ou outra qualquer. Que interessa isso quando esta é uma daquelas histórias em que, novamente, a realidade é tão real como a
ficção. António, à falta de recursos imediatos para fazer cinema (ou jogar
vídeo-jogos), traz a ficção à realidade - num vice-versa que funde ambas. Imagem e semelhança. António, herói desta história,
artista plástico da vida, e plástico artista da ficção, inaugura sem querer nem saber o neo-ficcismo do pós-pós-modernismo - algo que apenas no futuro ficaremos a saber e já depois de estarmos todos mortos. António ou Zé, sobrenome Ninguém ou Todos. Nós, enquanto continuarmos a escrever coisas, as coisas escrever-se-ão por elas, transformando Antónios em jornais e Jornais em antónios. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4191610#.VEYMYyNYpJo" rel="nofollow" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img alt="http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4191610#.VEYMYyNYpJo" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4pySBBcOsNZC9oKQBWbc4yDkXwxqkumWdzRKrbPefR49-MIhlZlAfIcep411y-LOiZQ_Q1ke4wVyb2w-TILDRHMjHKzxyZxCjrVkjRM0S95y56WIMIfuqkB_V6Szct9WcfFiYpl37PhAz/s1600/Homem+tranquilo.jpg" height="305" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Note-se bem. Esta notícia é antes um ensaio sociológico num enredo cinematográfico que ao ser notícia se transfigurou num acontecimento real. E vice-versa. Este acontecimento real transfigurou-se em notícia num enredo cinematográfico que é antes um ensaio sociológico da notícia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por fim, vamos mais ao fundo da questão e/ou sobrevoemos de vez sobre ela. António, herói desta história, esfaqueia o desejo concretizado de família e num momento social perfeito. Nenhum desejo, elevado e humanizado em fantasia, é concretizável por inteiro sem matar o sonhador. Não haverá maior pesadelo que a própria fantasia em plena realização. O abismo da plena realização para o vazio levou o herói desta história, António, a matar os seus adereços de vida mais queridos, mulher e filha, à facada! Qualquer pesadelo é melhor que o da plena realização. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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António, herói desta história, arquétipo pós-moderno das massas, Messias pós-pós-moderno, imagem de plástico da nossa semelhança, salvou-se da plena concretização com a fusão da realidade com a ficção. Mas condenou-nos a todos. Os textos noticiosos, fictícios ou não, tornaram-se o enredo da vida, sendo o inverso válido mas redundante escrevê-lo. O fim está próximo. Basta alguém escrevê-lo. Fim.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-69906982625814610192014-10-13T09:00:00.000+01:002014-10-13T09:00:06.310+01:00Crónica de uma Bomba de Gasolina à Noite<div style="text-align: justify;">
E se a mentira que o homem constrói não for a negação das condições do plano da existência mas antes a refracção da própria realidade, dado que a mentira transporta em si os elementos que definem a verdade, como um olhar que capta uma silhueta e especula sobre o objecto, reduzido ao intervalo das possibilidades reais, e é nestas considerações que a madrugada nos leva à bomba de gasolina, daquelas estações que permanecem abertas quando a noite tudo silenciou, e neste cenário o foco centra-se numa mulher jovem de etnia africana, gorda, pouco atraente, olhos cavados, uma cara rebentada de borbulhas, e faz-nos lembrar um <i>ferrero rocher</i> sem que a consciência nos impeça de tecer opiniões deselegantes, pois nesta crueza descritiva há uma validação preambular, mas voltando ao âmago narrativo, temos uma pessoa feia e gorda acabada de sair do trabalho, visto que ainda traz consigo um uniforme da empresa de limpezas, e imaginamos que terá vindo à loja a caminho de casa, uma casa que deve resumir-se a uma sala pequena com <i>kitchenette</i>, uma casa de banho e um quarto do tamanho de uma dispensa, e com isto se define uma casa porque assume uma exposição básica dos elementos que definem uma casa, um espaço que delimita as fronteiras do interior para o exterior, em que se encerra, mesmo quando arrendado, a ideia de propriedade, porém esta personagem não deve desenvolver a consciência para discutir estas, e outras, significações complexas, resumindo a sua relação com o espaço através de construções emocionais relativas à posse e ao <i>status quo</i> necessário para a sua integração social, visto que os seus vínculos sociais dependem da afirmação das condições que constroem as suas expectativas idiossincrásicas e culturais, o que por outras palavras significa que se não possuir um espaço que se possa definir como casa, pode sentir-se rejeitada por um meio envolvente que força a ideia de posse como requisito social básico, e na continuação desta ideia, vêmo-la a comprar duas revistas de moda, vários pacotes de bolachas e chocolate e um saco de pipocas, e não nos é difícil de adivinhar que quando chegar a «casa», e assim que ligar o televisor, não para seguir a programação mas simplesmente para se sentir acompanhada, abrirá as revistas onde constatará que há mulheres que são terrivelmente atraentes, afogadas em luxo e em estatuto de elite, que nada fizeram da vida com mérito próprio, à força do trabalho e do intelecto, mas tão só nasceram com genes que as favorecem nesta geração da humanidade, e esta nossa personagem afirmará nos interstícios da consciência comiserativa que a vida é injusta, e mais uma vez adivinhamos que entre lágrimas recalcará o vazio com chocolates e bolachas e pipocas, com um intuito suicida de sabotar o seu futuro, caminhando num trilho oposto ao projectado, e tudo porque a frustração e a angústia levam-na a odiar-se diariamente, seja no trabalho ou seja em «casa», recusando procurar outras ferramentas para concretizar os seus desejos e necessidades, não só por estar alienada, mas porque precisa de alimentar a mentira, e é esse o ponto nevrálgico deste discurso, dado que os sujeitos constroem mentiras não para negar a miserabilidade da vida, mas antes para se impedirem de constatar essa mesma miserabilidade e transformá-la em algo mutável, pois é mentindo-se que estorvam a mudança e a concretização das projecções pessoais, acabando por realçar e sublinhar a realidade da sua situação, e ao analisar todos os elementos que definem a mentira encontramos a silhueta da verdade, e quando a nossa personagem acordar no dia seguinte, ainda no sofá, com a televisão acesa, duas revistas que provam a insignificância da sua existência, embalagens de plástico vazios, um rosto com rímel borrado e duas novas borbulhas, bastam-lhe um saco do lixo e uma cara lavada para recomeçar um ciclo de autocomiseração que só terminará com um enfarte do miocárdio, <i>c'est fini</i>, <i>kaputt</i>, <i>arrivederci</i>, e tudo isto seria irrelevante se fosse um caso excepcional, mas não o é, pois a mentira continua a ser interpretada como a negação da verdade e não como a refracção da realidade, impossibilitando a tradução das angústias humanas em qualquer coisa transformável.</div>
C-zerohttp://www.blogger.com/profile/17177719362151943982noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-64041967954389196042014-10-11T01:15:00.001+01:002014-10-12T12:06:23.110+01:00O Silêncio<div style="text-align: justify;">
Falta silêncio. Esse bem precioso é constantemente evitado com o encher de chouriços sonoros. A música é quase omnipresente. Entra-se no carro, liga-se o rádio; entra-se numa loja, mais música; sobe-se num elevador, mais notas musicais; vamos mandar uma cagada à WC e também nos bufam com música! Música de merda, normalmente. Mas também a boa música vira poluição na overdose diária a que estamos submetidos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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O maestro Vitorino de Almeida escreveu um pequeno e fantástico livro chamado <i>O que é Música?</i> em que reflecte sobre este assunto, mas noutro sentido ao que acima escrevi. Ele exemplificava que a música ou outro qualquer ruído era admitido conforme o contexto. A cacofonia de barulhos e músicas chocando umas com as outras numa feira ou parque de diversões é humanamente admitida, enquanto um simples tossir num concerto de música erudita pode irritar a plateia. </div>
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<br /></div>
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Que nos leva a evitar o silêncio nos momentos em que o contexto o exigiria? Será a voz interior que de dentro de nós submerge? Há quem ligue uma TV só para companhia, embora ignore a programação. Pelos vistos, mais vale estar mal acompanhado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há meses que deixei de ouvir música no carro. Prefiro ouvir o motor ou os estranhos efeitos que o som faz vindos da janela com o movimento. O interesse por este aparente silêncio intensificou-se com os constantes pedidos de minha sobrinha para ligar o rádio na RFM ou na Comercial. É verdadeira poluição sonora. Um nojo de música vomitada numa curta e incessante playlist que nos faz definhar o cérebro e a paciência. Conteúdo e forma musical de plástico. Plástico, plástico e mais plástico, com excepções musicais que se afogam na merda da lista de canções que essas rádio debitam. Poucas coisas me tornam tão óbvio o valor do silêncio, neste caso, da ausência de música.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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A rádio Comercial, a RFM, e quase todas as outras, são um atentado à própria música como arte. É musica velha nova. É sempre música velha nova. Não acrescentam nada. As concessões para uso das frequências radiofónicas em que emitem deviam ser canceladas. Estas rádios não dão um serviço positivo à comunidade. Puro desperdício de ondas, quando há um enorme e desafiante mundo de música experimental e música antiga para explorar. Há imenso para se discutir e dar a conhecer sobre música e sobre a sua interligação com a sociedade, mas o que nos dão são receitas de plástico para os ouvidos.</div>
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Há dias li um <a href="http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,ouvidor-geral,1563182" target="_blank">artigo sobre o sonoplasta Vasco Pimentel</a>. Foi inspirador. Fantástica a perspectiva e atitude dele perante o som. Abriu-me os ouvidos e a mente para tudo isto que vos falo. Estes últimos tempos têm sido reveladores relativamente à qualidade e riqueza daquilo que há para ouvir em nosso redor.<br />
<br />
Como músico, os pequenos e grandes sons, tanto os amestrados como os selvagens, têm ganho novo corpo e cores para mim. Nada como o silêncio para intensificar o valor do som e música.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-90551643523928642022014-09-18T10:01:00.000+01:002014-09-18T10:01:00.483+01:00Praxes em Fila Indiana<div style="text-align: justify;">
Ela defendia a praxe. Argumentava. Disse-lhe que me fazia confusão ver pessoas em fila indiana, juntinhas, caminhando passo a passo para o mesmo ponto. Disse-lhe que a ordem indiana pode ser adequada e positiva quando se alinham até ao talho, para buscar umas febras e evitar confusões. Mas disse-lhe, também, que ver pessoas em fila indiana para serem talhadas me fazia mingar as vergonhas. Lembrei-lhe que há uns anos a malta fez indianas filas para entrar nuns comboios. Há um lado conformista e acrítico nas filas de miúdos com as cuecas por cima das calças que me lembra Auschwitz, e disse-lhe. Ela riu, fingiu não me levar a sério, não quis levar-me a sério (aqui foi sensata), mas ouviu-me e perdeu-se no raciocínio dela própria. Engraçou comigo! Falou que eu era um brincalhão (mas a merda é que eu falava a sério). Dava a entender que queria ser praxada e eu não estava para ali virado. Talvez o problema fosse somente o facto de preferir as morenas, mas com aquela fila de argumentos indianamente encarreirados já toda ela me era no meu imaginário um holocausto. Preparei a fuga. A sua gesticulação convidava-me para fazer fila indiana, com ela. Confesso, hesitei, tive dúvidas se deveria enfileirar-me nela, mas a História ensina muita coisa e tomei uma decisão. Fiz a escolha certa. Fiz o que devia ter feito. E agora estou arrependido de não lhe ter segurado a mão e apanhado o comboio. Afinal, ela defendia a praxe.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-33102428235607679842014-09-15T16:55:00.000+01:002014-09-15T16:55:36.108+01:00Centelhas que ainda Faíscam #3<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="https://ytimg.googleusercontent.com/vi/LIaJ6P_sIZM/0.jpg" height="266" width="320"><param name="movie" value="https://youtube.googleapis.com/v/LIaJ6P_sIZM&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><param name="allowFullScreen" value="true" /><embed width="320" height="266" src="https://youtube.googleapis.com/v/LIaJ6P_sIZM&source=uds" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true"></embed></object></div>
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Frenzy - The Ex<br />Let me tell you about Karl Marx<br />a visionary fish in a pool of sharks<br />he was funny guy<br />I don't have to tell you why<br />his one-liners were the best<br />like the one in the past<br />about das Casablanca manifest<br />For that night, a women she came<br />and she warn away, to warn some others<br />to warn her brothers<br />but Karl just said; "hey Fuck off<br />I knew you guys, up to your eyes<br />I know that you Fuck your mothers"<br />He was really quite a laugh<br />I just couldn't get enough<br />I saw all his movies, one by one<br />they were thought-provoking<br />and I'm not joking<br />but this son of a gun<br />had only just begun<br />to have some fun<br />And don't forget about this book he wrote<br />with plenty of "workers, you'll get fired" scenes<br />hello you must be going<br />if you know what that means<br />people used to laugh their heads off loud<br />just like in the gay old times<br />with them good old guillotines<br />And then there's Groucho, a serious bloke<br />who never told a single joke<br />he had a beard, that might seem weird<br />but he sure wasn't shy as he cast the die<br />for he told the bosses; "you bet your life"<br />Let's put things in hysterical perspective<br />to make my remarks a bit more effective<br />for those were the days<br />but those days took a hike<br />when the West world insist<br />on a sit-down strike<br />for the stand-up communist ...<br />not columnist, economist but communist<br />not chameleon, comedian but communist<br />Well, that's not arty-farty,<br />that's when Lenin met McCarthy<br />and this, as far as I can see,<br />was the beginning of a beautiful frenzy<br />The beginning of a beautiful frenzy</blockquote>
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Dia 4 de Outubro, às 21h30, no Pavilhão do Grupo Desportivo Ferroviário do Barreiro: recuperar The Ex nos vagões da memória. </div>
C-zerohttp://www.blogger.com/profile/17177719362151943982noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-62706180736086998002014-09-12T10:01:00.000+01:002014-09-12T10:01:00.727+01:00"Os Zebrús estão a um nível superior"<div style="text-align: justify;">
Se alguém tiver que explicar o que é um glutão a quem nunca viu um glutão, escusado tentar fazê-lo pela negativa. Dizer que um glutão não é um cão, nem um hipopótamo, nem tem quatro rodas ou asas e nem é o padeiro que fez a dona Zenilda pecar, é, claro está, o mesmo que nada dizer sobre o que é um glutão.</div>
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A isto chama-se definir uma coisa pela negativa. Um sofisma clássico.</div>
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<u>As coisas só podem ser definidas pela positiva.</u> Nada se prova pela negativa. Quando se tem uma tese fundamentada pela positiva, ela pode ser refutada... surgindo uma outra tese. Além disso, há algo importante a ter-se em atenção: <u>quando não é possível provar-se a inexistência de uma coisa, isso não significa que essa coisa exista</u>. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiASbK6E_ogNdaz9H_dHghBIw-zH5TQTDshlVGKaUoC9NHhr-SAlJPrTbN-5ITyHkF8MrsjD_rAnYMsdzLd3_NXHvc9lILgbEvfUCCQW2-3X0KgoOXYNj53mznvCFoRpz5GL4m01CisyVPa/s1600/Zebru.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiASbK6E_ogNdaz9H_dHghBIw-zH5TQTDshlVGKaUoC9NHhr-SAlJPrTbN-5ITyHkF8MrsjD_rAnYMsdzLd3_NXHvc9lILgbEvfUCCQW2-3X0KgoOXYNj53mznvCFoRpz5GL4m01CisyVPa/s1600/Zebru.jpg" height="145" width="200" /></a>Vejamos o caso do zebrú. O zebrú não é um glutão, não é um cão, não tem quatro patas nem motor. Sei, por acaso, que você não sabe o que é um zebrú nem nunca viu nenhum, mas desafio-o a provar na caixa de comentários abaixo que os zebrús não existem. Se não conseguir prová-lo os zebrús passam a existir?</div>
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Deus nos salve de tais lógicas!</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-72802084119556433622014-09-09T01:55:00.001+01:002014-09-09T01:55:36.769+01:00Crónica de uma Lembrança<div style="text-align: justify;">
Quando as luzes se apagam são vultos que vagueiam nas penumbras das ideias, sombras que se afastam e que se aproximam, em silêncio, nas madrugadas pesadas e longas, madrugadas insones, dado que nos assalta uma sede, uma garganta de pavores nocturnos, uma violência que se remexe nos nossos intestinos e já só nos resta ir ao frigorífico, no resgate do vinho branco, a profilaxia que os nossos instintos nos recomendam, e quando puxamos pela porta do frigorífico há aquela resistência de vácuo que nos dificulta as soluções mais fáceis, soluções que também são as mais frágeis porque nos atiram para um limbo, uma corda bamba de estados emocionais, uma dúvida que nos oprime a consciência, no entanto a porta cede e dá lugar à luz que nos estonteia os nervos, piscámos os olhos, com uma mão protegemo-nos da cegueira e com a outra buscamos a garrafa, recordamo-nos de uma infância, de uma feira, que hoje detestamos, aquele espectáculo de desordem e confusão, e gentes que se comunicam em decibéis difíceis de suportar, e é tão fácil os nossos olhos se perderem nas dezenas de barracas, e nas centenas de inutilidades que se vendem, e toda aquela sensação de sorrisos falsos e intrigas e desonestidades, toda aquela sensação de vivências marginais, tudo tão circense, da mesma forma como detestamos o circo, já não suportamos aquele modo de vida paralelo porque sabe-nos a logro e a fantasias do degredo, e vemos o nosso pai a regatear fruta num diálogo de compadres, num jeito de amizade forçada que tilinta uns cobres que se trocam por um saco de maçãs ranheta, uns sorrisos, uma gargalhada que se confunde em gargarejar, um escarro para o canto, obrigado e até amanhã, e nisto uma maçã rola da bancada e cai ao chão, e por lá se fica entre sapatos que se movem, e de pontapé para ali e outro para acolá, a maçã experimenta a turbulência do quotidiano humano até repousar num ângulo escondido entre barracas, esquecida e perdida, nem um rato que se aproximou para farejá-la fixou interesse na maçã, uma vez que foi expulsa das dinâmicas existenciais, relegada à condição do desprezo e da repulsa, uma maçã solitária em estado de decomposição acelerada, visto que foi retirada da qualidade que subjaz a matriz de existência das coisas existentes, porque fora do seu contexto cessam as razões que a mantinham no plano da sua entidade como maçã, já só lhe resta o caminho do perecimento, contaminada por um bolor de tons azuis e verdes e um arco-íris de putrilagem, nem as sementes escapam, nem a possibilidade de renascer foi-lhe dada, completamente condenada a desaparecer neste varrer de desdém que a vida nos oferece, e ao recuperarmos o presente, ainda cegos do frigorífico, desistimos da garrafa de vinho, porque já nos basta a marginalidade da noite, e é a cama que nos impele a refazer as oportunidades do amanhã, pois é o sono que nos reabilita as podridões das narrativas diárias, no entanto somos obrigados a frisar que não somos maçãs, somos homens, e mesmo quando vetados ao esquecimento, projectamo-nos nos sonhos e nas utopias, neste fluxo inesgotável de existência humana, muito para além das nossas sementes e do nosso perecimento.</div>
C-zerohttp://www.blogger.com/profile/17177719362151943982noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-7366253809075630252014-09-04T11:11:00.000+01:002014-09-07T13:02:17.883+01:00Um homem vulgar<div style="text-align: justify;">
Ontem um senhor com cinquenta e muitos anos fazia conversa comigo. Dava grande importância em ser simpático para tudo e todos. As outras pessoas importam-lhe hoje mais do que antes, pareceu-me. Provavelmente um sinal de que nunca como agora ele precisa tanto dos demais. Explicitou que gostava de falar comigo! Logo eu que não gosto de fazer conversa de circunstância...</div>
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Perguntei-lhe, a certa altura, o que vinha ali fazer. Ele ia explicar, e para isso percebi que teria de puxar pelo curriculum, pela experiência, por tudo aquilo que o fazia importante para estar ali estar a fazer o que foi fazer.</div>
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- Sabe, eu...</div>
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Foi então que ele interrompeu a resposta ainda antes de a começar, olhou fixamente em frente, com ar reflexivo e</div>
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- Não! Na verdade sou um indivíduo completamente vulgar. Vulgaríssimo. Sou vulgaríssimo.</div>
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Pausa. Olhar fixo em frente e reflexivo.</div>
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- Sou um indivíduo vulgaríssimo.</div>
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Momento intenso. Olhar intenso. Tom de voz intensíssimo. Não lhe respondi. Em momentos destes penso de mais para conseguir ter espaço para conseguir falar. Lembrei Carl Sagan. As famosas passagens de Cosmos em que tudo depende da distância de perspectiva.</div>
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A Terra, a Via Láctea, é só uma partícula de pó no imenso Espaço. Tão pequenina é a nossa constelação que o planeta Terra se torna insignificante. Poeira cósmica vulgar, vulgaríssima. Porém, é praticamente tudo o que temos. Para nós, que aqui vivemos, a Terra é o planeta mais importante. [<a href="https://www.youtube.com/watch?v=KN4IpjskxrM">Pale Blue Dot</a>]</div>
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Ali ia um homem vulgaríssimo.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-6743880876959212332014-08-31T09:30:00.000+01:002014-08-31T16:02:10.517+01:00Identificativo de Benfiquismo<div style="text-align: justify;">
O que é o Benfiquismo senão um conjunto de narrativas que montam memórias e histórias, num conjunto de pessoas que partilham uma idiossincrasia que foge à nacionalidade e que nasce do acaso de uma herança ou de um contágio vizinho ou de um miúdo que se senta no lado esquerdo de um banco traseiro de um táxi.</div>
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O que é esta coisa que nos identifica a um clube desportivo senão um acondicionamento acidental que nos traça uma linha invisível a que chamamos destino, e que a razão nos oferece o argumento do abandono e a emoção labora no sentido contrário.</div>
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O que é o Benfiquismo senão uma linguagem que não se traduz em palavras, gramática, semântica, mas antes uma linguagem que se constrói por olhares, abraços, festejos e lágrimas, uma linguagem tão própria que constitui, aos poucos, um âmago da identidade pessoal e colectiva, e que nos marca o discurso e o carácter e as arritmias cardíacas.</div>
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O que é o Benfiquismo senão um funeral de um amigo, em cujo caixão se deixou repousar a bandeira do partido e a bandeira do Benfica, até os vermelhos se confundirem no que parecia ser um único tecido, dado que a viúva afirmava que o comunista e o benfiquista eram a mesma pessoa e o neto levava um <i>e pluribus unum</i> enrolado no pescoço.</div>
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O que é o Benfiquismo senão um colega de internamento na hematologia resgatar na véspera do seu falecimento, num lapso de senilidade, a curiosidade de saber se o Benfica ganhou o jogo, e na falta de atrevimento terei dito que sim, enquanto sangrava por dentro pela mentira, enquanto o colega terá provavelmente esboçado o seu último sorriso.</div>
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O que é o Benfiquismo senão um intervalo de um fratricídio absurdo e criminoso como o da guerra colonial, quando se apontavam os holofotes para a mata durante o relato de mais um jogo do Benfica, dado que durante 90 minutos fazia impressão matar alguém que partilhava connosco este amor pelo clube da águia.</div>
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O que é o Benfiquismo senão trepar os <i>Alto dos Moinhos</i> para testemunhar o maremoto vermelho invadir as artérias de <i>São Domingos de Benfica</i>, num dia de jogo, dado que ver aquela mancha enorme é como saber que chegámos a casa, é como as saudades da especialidade materna que ainda penetra no nosso olfacto e paladar, é como revisitar amigos de outras vivências nossas e bebermos imperiais até nos esquecermos da idade, e com mais imperiais até acreditamos na nossa bonita e desafinada voz, e dado que a única canção que a ebriedade nos permite passa por assumirmos que somos benfiquistas e papoilas saltitantes.</div>
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O que é ser Benfiquista senão ter histórias que nos relacionam com o Benfica. Não obedecemos a matrizes glorificadas que dão mote a emblemas e a escudos. Não nos interessamos por datas de fundação ou centenários. Não contamos troféus e vitórias e campeonatos e taças. Somos Benfiquistas por acaso. E é no acaso que o Benfica faz história connosco. </div>
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Ser Benfiquista é narrar o romance da nossa vida com o Benfica, e é participarmos nesta corrente histórica que nos enlaça nesta confusão emocional que chamamos Benfiquismo.</div>
C-zerohttp://www.blogger.com/profile/17177719362151943982noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-77455451138713303362014-08-29T00:57:00.000+01:002014-08-29T01:08:08.238+01:00Allfama<div style="text-align: justify;">
Num sítio que vai sendo Alfama entramos numa recém inaugurada loja de uma amiga. Igual a muitas outras, lavadinha, marcas identitárias bem planeadas em três itens: cortiça, sardinhas, fado. Lisboa ou Portugal, implícito em cada um dos itens. <i>Marketing</i>. Loja lavadinha. Sem raízes. Malas, canetas, capas para cadernos, tudo em tecido de cortiça, portuguesa, acompanhados com bolos e bolinhos mais sardinhas sardinhas ou sardinhas desenhadas. À entrada, Fado. Colectâneas de Amália sem cortiça ou sardinhas, valha-nos isso.</div>
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Saímos, procurei por uma casa onde já fui feliz, uma casa de fados, com três marcas identitárias organicamente enraizadas: Fado, Benfica e boa comida a preços baixos. Durante um fado um golo do Benfica. Fadista perturbado na própria alegria. Mas é tudo recordações. A casa de fados virou memória. Deixou de existir. Agora é outra coisa. Ter-se-á agora tornado cortiça, sardinhas e… <i>Marketing</i>.</div>
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Subimos perdidos por Alfama acima. Procurámos boa comida a preços baixos. Mas só casas de fados sem Benfica e Benfica sem fados. É o mesmo que dizer comida sem preços baixos. Boa comida, apesar de tudo - presumo. Enfim! Três itens identitários: marketing e puta que os pariu que já não há pachorra para sardinhas enlatadas cortiça enlatada Benfica enlatado comida boa em casas enlatadas assepsia asae e enlatados desenhados com sardinhas. <i>Marketing</i>. Putacuspariu que a fome e a carteira quase me levaram “jantar” Mcdonalds em pleno bairro popular e aviso que no dia em que definitivamente não conseguir usufruir da nossa cidade de Lisboa, enfiar-lhos-ei os postais da cidade pelas sardinhas de cortiça acima, ie, <i>inbound marketing</i>.</div>
Brunohttp://www.blogger.com/profile/16460423691051002879noreply@blogger.com11100-139 Alfama, Portugal38.711204 -9.1277230000000613.189169500000002 -50.436317000000059 64.2332385 32.180870999999939tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-48885003868725069262014-08-25T13:19:00.001+01:002014-08-25T13:19:39.520+01:00Crónica de uma Noite de Verão<div style="text-align: justify;">
O que teremos a dizer à noite, dado que é nela que sentimos o beijo das ausências, tal como o contacto de peles alheias que sentimos na cama e nos perturbamos com insónias e vazio e angústia, um absurdo de movimento sem destino, e a pele que julgámos sentir uma prega de lençóis esquecidos, e saímos à rua e é um mundo de sombras lunares e são grilos que nos acompanham nestes pequenos escapes, dado que é verão, uma noite de verão, e estamos secos, boca seca, olhos secos, miolos secos, tripas secas, e beijamos o gargalo da garrafa de cerveja, e na falta de cerveja bebemos <i>pegões</i>, e na falta de tudo buscamos a memória das vidas sentidas e experimentamos a saudade, porém, quando nos deixamos de merdas assumimos que não há saudades, há mariquices, esta necessidade de nos prendermos ao passado porque temos medo do estalo que vem ao virar da esquina, há toda esta necessidade de nos mentirmos como se a ficção fosse, de alguma forma, mais tolerável de viver que a sobriedade das vidas comuns, e é a trocar o passo que voltamos à cama, e esperamos que os mosquitos nos deixem as veias em paz e que nos chupem este medo de viver. </div>
C-zerohttp://www.blogger.com/profile/17177719362151943982noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3855192922603000071.post-80992774224301147952014-08-17T10:00:00.000+01:002014-08-17T10:00:00.517+01:00Crónica de um Deserto<div style="text-align: justify;">
As curvas fazem a vida, dado que quando olhamos o sol vemos um círculo amarelo pujante, em movimento subtil de trajectória elíptica que reflecte fulgor no metal das jantes, e quando observamos aquela mistura de pneu com estrada, borracha e alcatrão, sentimos a energia cinética traduzida em celeridade e abraçamos aquele torpor mecânico que nos aquece os nervos, uma sinfonia de potência maquinal que rasga a misantropia dos desertos áridos, solo escaldado de verão perpétuo, chão de gretas para refúgio de pequenos répteis, visto que em movimentos circulares uma águia está de sentinela, paciente, olho redondo, persistente na procura de um aperitivo, e se nos fixarmos nesta árvore, possivelmente uma oliveira, constatamos que no nada há sempre qualquer coisa, tamanho absurdo são as teias da sobrevivência, onde uma pequena aranha descansa depois do seu labor, uma vez que o conjunto das pequenas tarefas faz um outro conjunto de pequenas histórias, da mesma forma que as folhas baloiçantes da árvore são causa desta leve aragem proveniente dos recônditos mistérios do planeta, e de papel rabiscado, calculadora na mão, computador com cálculo diferencial e modelos aproximados, tentamos compreender todas as particularidades dos fenómenos reais, contudo, e porque até a sabedoria tem limites, é-nos impossível entender o que faz um carro branco, um dodge challenger 1970, em velocidade colérica, numa estrada alcatroada no meio de um deserto, e se pisarmos a fundo o pedal do travão soltamos uma chiadeira que viola os princípios do silêncio estéril e largamos um fumegar de borracha queimada, pneus que derrapam ora para um lado ora para o outro, e no alcatrão marcamos linhas pretas oblíquas até que o carro, eventualmente, pára, e uma porta se abre, e sapatos que pisam o chão e o nosso corpo que se levanta, mãos nas ancas, dobrar as costas, estalar a espinha, puxar o chapéu e tapar os olhos, é um sol que nos cega, levar a mão ao bolso das calças e puxar um maço de cigarros, e de cigarro na boca contemplar as curvas da estrada que se perdem no horizonte, dado que perscrutamos as essências das coisas até à miopia do nosso entendimento, como quando tentamos olhar para o quadro todo, uma barreira de nuvens nos proibe o abrangência do universo, e nestas condições só percebemos as pequenas coisas, amputações da realidade em fatias muito pequenas, tudo demasiado pequeno e frágil, só uma fracção da verdade, e dado que nos dá uma vontade de mijar, vamos à berma da estrada e baixamos a braguilha, um borbulhar de urina que se mistura com o pó do deserto, e reparamos, fixados, numa águia a vaguear aos círculos num céu vazio de acontecimentos, um céu tão diferente da nossa cabeça cheia de merda, visto que fazemos da nossa vida uma montagem paciente de peças de puzzle, e completamente à toa fomos encaixando partes num lado e noutro e a dado momento percebemos que o desenho não faz qualquer sentido, tamanha confusão de partes que não fazem o todo, um conjunto de disparates sem nexo que nos pesa a consciência e o juízo, acumulado numa massa enorme que nos obstrui a apreciação das múltiplas experiências da vida, e então puxamos a braguilha para cima, apertamos o cinto e, voltando ao carro, abrimos o porta-bagagens, um saco e uma pá, e saindo da estrada, dez, quinze, vinte passos, cavamos um buraco, algumas braçadas e tiramos a camisa ensopada em suor, mais braçadas, e percebemos que há este enorme buraco que temos no peito, e nele há um vórtice de emoções perdidas, assuntos inacabados de uma vida passada que nos condicionam os projectos de uma vida futura, e muitas vezes mantemo-lo porque estamos convencidos que um dia os assuntos se resolverão, mas há nós que nunca se desatarão, dado que a vida e suas experiências consequentes são exemplos extraordinários e infinitos, e o nosso entendimento é uma propriedade limitada e subordinada à alienação, e só nos resta cavar um buraco, atirar o saco dos nossos sonhos absurdos para o vazio, tapá-lo, e finalmente voltar para casa visto que apanhámos um escaldão nas costas, o deserto não perdoa os incautos, e tudo o que sobrará é uma névoa escura de um tubo de escape, um carro que faz uma inversão de marcha, um céu órfão de uma águia desaparecida, um sol deslocado, e uma estrada, tal como a vida, feita de curvas que se perderão no efeito tremeluzente de alcatrão escaldado.</div>
C-zerohttp://www.blogger.com/profile/17177719362151943982noreply@blogger.com1